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No início da década de 1940 introduziu-se na Madeira uma nova forma de aproveitamento dos recursos marítimos: a caça aos Cachalotes. Em 1940 chegaram à Madeira dois vigias e duas baleeiras equipadas e suas tripulações. Estes meios técnicos e humanos partiram dos Açores.


Estes homens procederam à construção de dois postos de vigia nas pontas Este e Oeste da Ilha, nomeadamente em Machico e no Porto Moniz. Além desses dois edifícios, foi construída uma estação de derretimento de toucinho muito rudimentar, a que os baleeiros chamavam de Traiol, situada na foz da Ribeira da Janela, no Porto Moniz.

O dia 2 de Fevereiro de 1941 constitui um marco fundamental na história baleeira da Madeira, por ser o dia em que se mataram os primeiros cachalotes neste arquipélago. Esses animais foram mortos ao largo do Porto Moniz e foram transformados em óleo na Ribeira da Janela.

Em 1942 foi construído um novo Traiol, desta vez na costa sul, mais concretamente no calhau do Garajau, situado aproximadamente a 3,5 milhas a Este do cais do Funchal. O Traiol do Garajau estava melhor equipado que o da Ribeira da Janela, o que levou ao progressivo abandono deste.

Com o passar dos anos, a rede de vigias costeiras do arquipélago da Madeira foi melhorada, com a construção de novos postos de vigia por toda a costa da ilha da Madeira, nas ilhas Desertas e na ilha do Porto Santo. Estas vigias possibilitaram a cobertura integral dos mares deste arquipélago até às 15 milhas de Distância.

Rede de vigias do arquipélago da MadeiraImagem 1: Rede de vigias do arquipélago da Madeira

Vigia do Caniçal, Imagem gentilmente cedida por Jacques Soulaire
Imagem 2: Vigia do Caniçal, Imagem gentilmente cedida por Jacques Soulaire

A eficácia da rede de vigias assentava em dois fatores técnicos: O primeiro era o correto posicionamento do edifício que influenciava a amplitude de visão, facilitando a localização dos animais. O segundo era a disponibilidade de meios de comunicação eficientes, que facilitassem a comunicação entre as vigias e as embarcações. Algumas das vigias ocupadas no serviço de procura de baleias foram construídas em 1943 pela Capitania do Porto do Funchal, com o intuito de reforçar a vigilância costeira para controlo do tráfego aéreo e marítimo militar durante a 2.ª Guerra Mundial.


Em 1944 foi constituída a Empresa Baleeira do Arquipélago da Madeira (EBAM) que assimilou o capital da armação baleeira existente e possibilitou a entrada de capital externo, indispensável á modernização que se seguiu.

EBAMImagem 3: Logótipo da EBAM existente nas sacas de embalamento de farinhas de baleia

Em 1946 entrou ao serviço uma embarcação indispensável no apoio às caçadas, nomeadamente no reboque das baleeiras e dos animais mortos: O rebocador "Passos Gouveia".

Rebocador “Passos Gouveia”. Imagem gentilmente cedida pela família CymbronImagem 4: Rebocador "Passos Gouveia". Imagem gentilmente cedida pela família Cymbron


No final da década de 1940 a recém-criada EBAM procedeu à industrialização dos meios de transformação dos animais mortos, com a construção de uma fábrica moderna. Por estar bem equipada, a nova fábrica possibilitou o aproveitamento integral dos animais mortos, tornando possível a produção de óleo a partir dos toucinhos e dos ossos e a produção de farinhas a partir da carne e ossos. Construída no Caniçal, a nova fábrica aumentou a capacidade produtiva da EBAM, reduzindo ao mesmo tempo a dependência do esforço humano.

Vista aérea do complexo fabril da EBAM. Imagem gentilmente cedida pela família Cymbron
Imagem 5: Vista aérea do complexo fabril da EBAM. Imagem gentilmente cedida pela família Cymbron

Paralelamente à modernização dos meios de transformação, a EBAM investiu na década de 1950 na modernização dos meios de caça. Essa modernização deu-se na aquisição de novas embarcações de que é exemplo o rebocador "Persistência" e na construção de baleeiras diferentes, movidas a motor.

Baleeiras a motor. Imagem gentilmente cedida por Manuel Nicolau.Imagem 6: Baleeiras a motor. Imagem gentilmente cedida por Manuel Nicolau.

A motorização das baleeiras, conjugada com a aquisição de lanchas mais velozes levou ao desenvolvimento de um método de caça característico da Madeira: A caça em cerco. Este método baseava-se na velocidade e agilidade de manobra das novas embarcações para conduzir os animais para perto da costa, facilitando a sua caça. O novo método de caça substituiu a técnica introduzida pelos açorianos e desenvolvida pelos bascos na Idade Média, que se baseava na aproximação furtiva aos animais.

Arpão utilizado na baleação Madeirense. A força exercida pelos cachalotes de pois de arpoados resultava na torção e dobramento do arpão

Imagem 7: Arpão utilizado na baleação Madeirense. A força exercida pelos cachalotes depois de arpoados resultava na torção e dobramento do arpão

 

As matérias-primas dos cachalotes possibilitavam a produção de uma grande diversidade de produtos. Dos toucinhos e ossos era retirado óleo, utilizado na lubrificação de maquinaria industrial e na indústria química. Em Portugal, a sua utilização era frequente no amaciamento de couros pela indústria dos curtumes e chegou a ser utilizado na Madeira como combustível para motores de embarcações e veículos, durante a escassez de combustíveis minerais da 2ª Guerra Mundial.



Chapa metálica utilizada para decalcar o emblema da EBAM nos bidões de óleoImagem 8: Chapa metálica utilizada para decalcar o emblema da EBAM nos bidões de óleo

Frasco contendo uma amostra de óleo produzido pela EBAM
Imagem 9: Frasco contendo uma amostra de óleo produzido pela EBAM

A cabeça do cachalote encerra uma enorme massa adiposa chamada de espermacete, que à temperatura ambiente se apresenta no estado sólido. Depois de refinado, esse material resulta num óleo de elevada qualidade, cujas propriedades tornaram-no procurado pela indústria aeroespacial.


Remoção de espermacete no estado líquido de dentro da cabeça de um cachalote. Imagem gentilmente cedida por Jacques Soulaire
Imagem 10: Remoção de espermacete no estado líquido de dentro da cabeça de um cachalote. Imagem gentilmente cedida por Jacques Soulaire

A fábrica da EBAM processava ainda os ossos, a carne, e o sangue dos cachalotes. Destas matérias-primas resultavam a produção de farinhas proteicas para a alimentação de gado e a produção de guanos ricos em minerais, para a fertilização de terrenos agrícolas.


A EBAM lucrou ainda com a extração de âmbar cinzento. Esse material resulta de um processo lento que se caracteriza pela acumulação natural de material não digerível nos intestinos dos cachalotes, que formavam uma massa compacta de cor escura. O âmbar era utilizado como agente de fixação aromática, pela indústria de perfumaria francesa.


Pedra de âmbar retirada das vísceras de um cachalote
Imagem 11: Pedra de âmbar retirada das vísceras de um cachalote

As mandíbulas e os dentes dos cachalotes eram utilizados pelos baleeiros e por artistas desligados da caça, na produção de peças artísticas: o Scrimshaw.


Na década de 1970, com o crescimento do movimento internacional para a defesa das baleias, houve uma interdição de comercialização dos produtos extraídos destes animais por alguns países, que até então eram os principais compradores da produção madeirense. Essa interdição conjugada com a diminuição do número de avistamentos conduziu ao fim voluntário da baleação no arquipélago em 1981.


A partir de 1986, o Decreto Legislativo Regional Nº 6/86/M tornou as águas em redor do Arquipélago da Madeira, até às 200 milhas, numa espécie de santuário para baleias, golfinhos e outros mamíferos marinhos, nomeadamente para o raro lobo-marinho.